domingo, 2 de setembro de 2012

Romualdo García: Cantarranas, 34


Quando Romualdo García (1852-1930) abriu seu estúdio de fotografia em Guanajuato, México, em 1887, época de grandes avanços tecnológicos da fotografia, pessoas de todas as idades e níveis de renda acorreram ao estúdio, dispostas a ficar ali de pé ou sentadas durante horas, para adquirir o status e a eternidade que um retrato de alta qualidade fornecia, produzido a um custo relativamente baixo.
Em seu livro As Caras e as máscaras, Eduardo Galeano se propõe narrar a história das Américas, principalmente da América Latina, nos séculos 18 e 19, a partir dos mais variados textos em que descreve episódios e situações curiosas, incluindo o trabalho de García: "O artilheiro, encapuzado, se agacha e faz pontaria. A vítima, um elegante cavaleiro de Guanajuato, não sorri nem pestaneja nem respira. Não tem escapatória: às suas costas caiu o pano, frondosa paisagem de gesso pintado, e a escadaria de papelão conduz ao vazio. Cercado de flores de papel, rodeado de colunas e balaustradas de papel, o grave prócer apoia a mão no encosto de uma poltrona e com dignidade enfrenta a boca de canhão da câmera de fole. Guanajuato inteira se deixa fuzilar no estúdio da rua Cantarranas, 34. Romualdo García fotografa os senhores de muito pergaminho e suas mulheres e seus filhos, meninos que parecem anões afundados em grandes coletes com relógio de bolso e meninas austeras como avozinhas esmagadas por chapelões cheios de sedas e fitas. Fotografa os gordos frades e os militares de gala, os de primeira comunhão e os recém-casados; e também os pobres, que vem de longe e dão o que não têm, contanto que posem muito penteados, muito passados, exibindo as melhores prendas, diante da câmera do artista mexicano premiado em Paris." 
Em 1904 uma enchente atingiu Guanajuato e destruiu milhares de negativos sobre chapas de vidro de Romualdo. Seu acervo (datado de 1905-1914) é mantido pelo Museu Regional Alhóndiga de Granaditas em Guanajuato. 
Fotos: © Romualdo Garcia (Guanajuato, México, c.1905-1914 / Joaquím Mora, Guanajuato, México, c. 1910 / reprodução Le Journal de la Triennale) / (Eduardo Galeano, As Caras e as máscaras; tradução Eric Nepomuceno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985)

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