terça-feira, 13 de novembro de 2007

Jogo de mentiras

"Na primavera de 1921, duas máquinas fotográficas automáticas, recentemente inventadas no exterior, foram instaladas em Praga e reproduziram seis ou sete exposições da mesma pessoa em uma mesma cópia. Gustav Janouch apresenta para Kafka uma dessas séries de fotos:
- Por umas poucas coroas, qualquer pessoa pode se fazer fotografar de todos os ângulos. O aparelho é um conhece-te a ti mesmo mecânico.
- Você quer dizer um engane-te a ti mesmo - retrucou kafka, com um ligeiro sorriso. Protestei.
- Como assim? A câmera não pode mentir!
- Quem lhe disse? Kafka inclinou a cabeça na direção do ombro - A fotografia concentra o olho no superficial. Por isso obscurece a vida oculta que reluz de leve através do contorno das coisas, como um jogo de luz e sombra. Não se pode captar isso, mesmo com a mais nítida das lentes. É preciso tatear com o sentimento para alcançá-la, [...] Essa câmera não multiplica os olhos dos homens, apenas oferece a visão de um olho de mosca fantasticamente simplificada. "
Foto: © Valério Vieira (1862-1914) Os trinta Valérios 1ª fotomontagem no Brasil (1901)

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