quinta-feira, 13 de março de 2008

A imagem latente

"Passa o tempo. Aquilo que você fotografou desapareceu. No próprio instante em que é tirada a fotografia, o objeto desaparece. Aqui a fotografia evoca o mito de Orfeu, que não agüenta mais, tendo chegado ao ápice de seu desejo, finalmente transgride o proibido: assumindo todos os riscos, volta-se para sua Eurídice, a vê e, na fração de segundo em que seu olhar a reconhece e capta, de uma só vez, ela desmaia. Assim toda foto, logo que é feita, envia para sempre seu objeto ao reino das trevas. Morto por ter sido visto. (...) Você nunca chegará ao encontro. Afinal você percebe, entre a imagem captada, em estado de "latência" e a imagem "revelada" nesse lapso de tempo, nesse intervalo, nessa passagem, que muitas coisas podem com efeito ter ocorrido." © Philippe Dubois
Foto: Fotograma do filme Orfeu Negro de Marcel Camus (1958)

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