segunda-feira, 26 de maio de 2008

Flagrantes

"Quando olhamos essa foto, as nossas atenções voltam-se imediatamente para a noiva, em seu estado de resignação, aguardando o momento tão desejado. Ali, tudo é espera: o chão batido à espera do calçamento, a construção (ao fundo) à espera de sua finalização, o lugar vazio do motorista à espera do suposto noivo e, principalmente, a noiva, concentrando em si a emocionalidade da foto. No entanto, após um certo tempo, nossas atenções voltam-se para a mulher que está fora do carro, não por ela estar efetivamente em estado de espera, pois está grávida, mas pelo seu olhar. A profunda desesperança nesse olhar não corresponde a uma espera momentânea, que na maioria das vezes, nesse tipo de situação se desfaz. É possível perceber que essa mulher olha para um nada, para um vazio, pois é um olhar que está perdido dentro dela própria, tão longe e tão próximo. A força dessa imagem não se encontra, de fato, no espaço representado, e sim na virtualidade a que ela nos remete. " Fernando Braune
Foto: © Sebastião Salgado

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