quarta-feira, 20 de agosto de 2008

O caçador compulsivo

"Há uma compulsão de tomar a câmera entre as mãos, uma compulsão de praticar o ato (aparentemente inconfessável). (...) Qualquer repórter fotográfico já experimentou esse pequeno estar fora de si, esse pequeno êxtase, quando a pulsão fotográfica o transforma numa espécie de caçador feroz e puramente instintivo, um animal fótico, um predador visual de coisas diáfanas, com todo o seu ser em estado de total eriçamento, um Rambo das sensações delicadas. As narinas latejam e ele avança com sua ativíssima, especialíssima e secreta passividade. Não se trata de captar a realidade. É apenas um ato que está circulando em suas veias. A fotografia não é a arte de captar, ao contrário, é uma arte de soltar. Como se a cada disparo da máquina fosse o fotógrafo que se esvaísse em disparada. O fotógrafo nada recebe, ao contrário, é como se, através do obturador aberto, ele se permitisse um vôo cego, um mergulho de se expor."
Texto e foto: © Arthur Omar

4 comentários:

Anônimo disse...

..."um Rambo das sensações delicadas."...
..."secreta passividade." ...
..."é uma arte de soltar"...

Olha depois deste texto eu acho que nunca mais vou voltar a fotografar. Esse Arthur Omar esta é fazendo propaganda GLS. Tô fora!

Beijos Meg.

Ps: Para mim a fotografia em contrapartida ao texto, é a arte de INVADIR, penetrar, roubar a alma, tomar posse, de maneira ativa e sem passividade nenhuma! Se o objeto for uma mulher então tudo se torna literal!

Anônimo disse...

lindo texto ! voo cego, mergulho de se expor...
nao acho que seja bem isso, mas é outra possibilidade ! nao tenho a menor idéia de quem seja arthur omar, mas com certeza é outro delirante da imagem !


aplausos !

Meg Rodrigues disse...

Oi Luis,

Cada fotógrafo "caça" de um jeito. Você poderia ser o Chuck Norris da fotografia (caramba, não consigo parar de rir).

Já publiquei um post com o texto do Baudrillard que é muito bonito:
"criar uma imagem consiste em ir retirando do objeto todas as dimensões...não é para durar, é para melhor desaparecer.
obrigada,
Beijos

Meg Rodrigues disse...

Oi Vertigem,

O Arthur Omar é um delirante,sim, e profissional! O texto foi escrito em 1988.
E tem também o ensaio "Kodak-gnose: grandeza e mistério de uma caixinha sagaz".

Beijos