quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Instantâneos da felicidade

(...)"Enquanto pensa, a fotografia resiste e esta resistência tem um sentido ético profundo - e que se torna ainda mais importante de sublinhar quando a cultura do instantâneo parece estar prestes a desaparecer. Pois o que faz a fotografia quando espera, é criar uma reserva de futuro no interior de um tempo que insiste em se fazer passar homogêneo - o tempo dos instantes quaisquer, dos instantes equivalentes e indiferentes. Vivemos uma época em que o futuro precipitou-se sobre o presente, a instantaneidade universalizou-se na forma do "ao vivo" e do "tempo real". (...) Nesta época em que o presente parece dilatar-se enormemente e as distinções entre passado e futuro tornam-se imperceptíveis, a espera fotográfica pode ser compreendida pelo que representou na modernidade: uma ética do instante, cuja missão era resguardar o futuro e, no interior deste, a possibilidade de fazer vir um acontecimento, um próximo momento diferente deste em que estamos vivendo. A dimensão ética da expectação do instante foi - e talvez ainda seja - a de produzir esta "reserva" de futuro como diferença. O passe-de-mágica do instantâneo fotográfico visava resguardar no futuro a potência de interrupção dos acontecimentos e este era o segredo de sua felicidade (...)." © Maurício Lissovsky (CCBB, 2007)
Foto: © Richard Kalvar

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