A maioria dos retratos realizados por Picasso de Olga Koklova e Marie-Thérese Walter são traçados com curvas cheias e suaves. Os retratos de Dora Maar, entretanto, mostram uma face devastada, machucada, distorcida. "São todas faces de Picasso, nenhuma é Dora Maar", foi mais tarde o comentário de Dora Maar. A história das lágrimas de Maar não termina nem com Guernica, nem com Mulher chorando. Como Tina Modotti, sua contemporânea, Maar era uma fotógrafa talentosa. Embora Picasso tenha usado esse talento para documentar a própria obra e tenha ordenado que ela fotografasse, por exemplo, o processo de criação de Guernica em mais de cem instantâneos, a fotografia era para ele uma arte "irrealizada". (...) Mesmo que existam retratos fotográficos feitos pelo próprio Picasso, ele aparentemente acreditava que a fotografia não lhe permitia, como artista, a usurpação do modelo no grau permitido pela pintura ou a escultura. Em certo sentido, tinha razão. Examinando uma fotografia primitiva de uma lavadeira de Newhaven, o teórico cultural Walter Benjamin observou em 1931 que ali estava "algo que não atesta apenas a arte do fotógrafo (...), algo que não deve ser silenciado, algo que requer o nome da pessoa que então vivia, que mesmo agora ainda é real e jamais perecerá inteiramente na arte". Para Picasso, essa morte era essencial: o corpo tinha de morrer antes de ser cortado e ressuscitado à la Frankenstein. "Para Picasso, a fotografia se agarrava demasiado amorosamente à carne viva." Alberto Manguel (Lendo imagens, Companhia das Letras, 2000).
Foto: © Man Ray (1890-1976) (Retrato de Dora Maar, 1936)
Um comentário:
Perfeito! Não existem mais palavras para descrever este post.
Beijinhos
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