"Foram os homens que nos levaram, Audálio Dantas e eu, para a aldeia de Livramento no Estado da Paraíba em julho de 1968. Catadores de caranguejos saíam cedo na primeira luz, levando suas canoas pelas águas grossas do estuário até chegar ao mangue - moradia, esconderijo e cemitério marinho do caranguejo. (...) No entanto são as mulheres os fundamentos de nossa história. Entrando em cena o sol caído, contornam o rio perto do arraial. Cestas balanceadas na cabeça, ondulam o corpo e pisam, seguras no passo - garças que passam gritando alto, periquitos em bandos grasnando no ar! Corri atrás delas mal conseguindo seguir o seu ruidoso rasto, cambaleando como um corpo sem alma, afundada até a cintura na lama, para enfim chegar ao templo do seu estar. Meninas, mulheres e velhas com seus vestuários de algodão ou chita, deselegantes e escorridos, subitamente transformadas em divindades pela lama - faces polidas de pedra, revestidas das pregas movediças do mar (...)." Maureen Bisilliat, São Paulo, outubro de 1984
(João Cabral de Melo Neto, O cão sem plumas, Editora Nova Fronteira, 1984).
Foto: © Maureen Bisilliat
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