"A invenção da fotografia mudou muitas coisas. Não é o caso de inventariar agora todas elas. A mudança que me parece mais evidente e que, de algum modo, alterou nosso próprio modo de ver foi esta: a fotografia nos ensinou a ver o mundo recortado em quadros, o quadro circunscrito pela câmera, e não como um contínuo limitado apenas pelo horizonte. O olhar disperso torna-se um olhar concentrado no recorte. (...) Mas o enquadramento introduz outra mudança do olhar, além da restrição aos limites da moldura: o foco, ou ponto de vista, adquire uma importância maior do que a aprendida com a invenção da perspectiva na pintura. Mais uma vez, a perspectiva simula a continuidade do espaço pintado, enquanto o foco marca a sua descontinuidade. Tudo o que não cabe debaixo do olho dentro de um ponto de vista e dentro do enquadramento só existe por suposição. O cinema, que vai permitir o movimento do foco, apenas ampliará os limites do descontínuo, sem no entanto resolvê-lo." José Clemente Pozenato (Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, nº 27, 1998).
Foto: © Alex Majoli / Magnum Photos (Rio de Janeiro, 1995)
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