quinta-feira, 4 de junho de 2009

Os mortos de sobrecasaca

Havia a um canto da sala um álbum de fotografias
[intoleráveis,
alto de muitos metros e velho de infinitos minutos,
em que todos se debruçavam
na alegria de zombar dos mortos de sobrecasaca.

Um verme principiou a roer as sobrecasacas indiferentes
e roeu as páginas, as dedicatórias e mesmo a poeira dos
[retratos.
Só não roeu o imortal soluço de vida que rebentava
que rebentava daquelas páginas.

Carlos Drummond de Andrade
(Sentimento do mundo, 1940)

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