"Peguemos uma pedra. Qual é a relação daquela pedra lá fora (que me faz tropeçar) com sua fotografia, e qual a relação da pedra com a explicação mineralógica sobre ela? A resposta parece fácil. A fotografia representa a pedra na forma de imagem e a explicação a representa na forma de um discurso linear. Isso significa que posso imaginar a pedra se leio a fotografia (...). Vivemos, falando de forma crua, em três reinos - o reino da experiência imediata (a pedra lá fora), o reino das imagens (a fotografia) e o reino dos conceitos (as explicações). (...) Por conveniência, podemos denominar o primeiro reino de "o mundo dos fatos" e os outros dois de "o mundo da ficção". (...) Mas o exemplo da pedra não é muito apropriado para nossa situação atual, uma vez que podemos andar até uma pedra, mas não podemos fazer nada parecido com isso em relação à maioria das coisas que nos determinam no presente. Não podemos fazer nada parecido com a maioria das coisas que ocorrem em explicações e também das coisas que acontecem em imagens. Tomemos como exemplos a informação genética, a guerra no Vietnã ou as partículas alfa. Não temos uma experiência imediata com essas coisas, mas somos influenciados por elas. Não faz sentido perguntar, com relação a essas coisas, em que medida a explicação ou a imagem lhe são adequadas. Como não temos experiência imediata com elas, a mídia torna-se para nós a própria coisa. Não importa se a "pedra" ou então a partícula alfa (ou o menino com revólver de Elliott Erwitt) estão "realmente" em algum lugar lá fora, ou se apenas aparecem na mídia: essas coisas são reais na medida em que determinam nossas vidas." Vilém Flusser (O mundo codificado, por uma filosofia do design e da comunicação, Tradução Raquel Abi-Sâmara, Cosac Naify, 2007)
Foto: © Elliott Erwitt
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