domingo, 8 de novembro de 2009

Paisagens codificadas

Vilém Flusser analisou que, "pouco tempo atrás, nosso universo era composto de coisas: casas e móveis, máquinas e veículos, trajes e roupas, livros e imagens, latas de conserva e cigarros. Também haviam seres humanos em nosso ambiente, ainda que a ciência já os tivesse, em grande parte, convertido em objetos: eles se tornaram, portanto, como as demais coisas, mensuráveis, calculáveis e passíveis de serem manipulados. Em suma, o ambiente era a condição de nossa existência (Dasein). Orientar-se nele significa diferenciar as coisas naturais das artificiais. Uma tarefa nada fácil." Nesse contexto, Josep Maria Montaner, em artigo publicado na revista Noz 3, discute os sistemas de representação das imagens e suas realidades: "o arquiteto e filósofo francês Paul Virilio sustenta, em seu livro-entrevista El Cibermundo, la política de lo peor, que é preciso reiventar uma "dramaturgia da paisagem", e acrescenta: "Uma cenografia da paisagem com atores e não simplesmente com espectadores. A paisagem rural que perdemos com o abandono da agricultura era uma paisagem vivenciada..." Com o consumo e o empobrecimento dos territórios, surgem projetos de reconstrução e revitalização. No entanto, ferramentas como o Google Earth ou o GPS, ainda que deixem o mundo mais acessível, tornam-no simples e planificado e, assim, convertem-no em um todo visível e homogêneo, eliminando os valores e a diversidade da paisagem." (Vilém Flusser, O mundo codificado, Tradução Raquel Abi-Sâmara, © Editora Cosac Naify, 2007/ © Revista Noz
(www.revistanoz.com)
Foto: © Walker Evans (Polaroid /Traffic arrow, 1973-1974)

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