No livro "Arte, inimiga do povo", Roger L. Taylor conta como o jazz, ritmo inicialmente tido como dotado de forte sentido de degradação sexual, foi cooptado pelo mundo da arte. Para explorar esse tema, Taylor concentrou-se nas origens do jazz, e o ponto de partida é o livro "A pictorial history of jazz, de Keepnews e Grauer Jr. Examinando as fotografias mais antigas, o autor percebe as mudanças que vão ocorrendo em seu estilo: As primeiras fotos atendem sua função mínima. Os músicos estão reunidos simplesmente por serem membros da banda e parecem estar incomodados por terem que posar para a câmera. As fotos quase poderiam ser de condenados, isto é, fotografias daqueles que prefeririam não ser fotografados. Apesar disso, elas devem ter se originado do desejo dos músicos. À medida que o jazz foi se disseminando, atingindo um público maior, o ar de aceitabilidade social é induzido por um estilo fotográfico consciente. Na década de 1920, os músicos fazem pose, passam uma imagem de cidadãos discretos e bem comportados, em outras palavras, conhecem seu lugar. Não são escravos vindos da Congo Square, em Nova Orleans. Eram feitas poucas fotografias da banda tocando. A ação é simulada. A estrutura principal da composição não tem nenhum compromisso com o realismo. Apesar de terem nascido no Caribe e portanto não serem de origem africana, as bandas se anunciavam como creole: "O importante era que deveriam parecer que eram, mas que se soubesse que não eram." Além disso, as bandas apareciam em trajes de gala nas fotografias, um mundo diferente daquele das bandas que marchavam com uniformes. Mas ainda assim é o mesmo mundo – muitos músicos apareciam nos dois contextos.
“O jazz negro, que é uma paródia da presença européia na sociedade branca norte-americana, era recomendado aos norte-americanos pelos europeus como algo de acordo com os padrões europeus mais elevados e, por isso, foi aceito pelos americanos como tal.” Segundo Taylor, com a absorção do jazz no processo da arte, veio a sua decrescente importância como catalisador da experiência popular, de massa. E, Taylor arrisca, "teria sido melhor para a existência do jazz se a reação 'cai fora' do jazzista ao interesse 'cultural' no que estava fazendo tivesse sido verdadeira, em vez de assumida como uma postura teatral dentro de um 'contexto cultural'."
Arte, inimiga do povo / Roger L. Taylor; tradução Maria Cristina Vidal Borba, - São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2005.
Fotos: © Bettmann / Corbis ( King Oliver's Dixie Syncopators, Chicago, 1925 e King Oliver's Creole Jazz Band, c.1922)
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