Henri Gauthier-Villars (ou "Willy") costumava dizer que a jovem esposa que ele havia importado da Borgonha em 1893 e confinada dentro de casa em Paris, o ajudou a escrever o romance Claudine à l'école. Na verdade, foi justamente a esposa dele, Sidonie-Gabrielle Colette (1873-1954), quem escreveu o livro, "contando coisas interessantes sobre sua escola", um sucesso de vendas de 1900. "Colette foi considerada uma escritora "ultrajante", audaciosa, perversa", a tal ponto que, ao morrer, em 1954, a igreja católica recusou-lhe um enterro religioso. Nos últimos anos de vida, Colette ficou na cama, levada pela doença, mas também pelo desejo de ter um espaço inteiramente criado por ela. Em seu apartamento - a "cama-jangada", como a batizou -, ela dormia e comia, recebia os amigos e conhecidos, escrevia e lia", revela Alberto Manguel em seu livro Uma história da leitura.
Manguel escreve também, sobre o refúgio solitário no quarto, a propósito de uma fotografia dela tirada um ano antes de sua morte, em seu octogésimo aniversário: "Colette está na cama e as mãos da criada depositaram sobre sua mesa - que está cheia de revistas, cartões e flores - um bolo de aniversário em chamas; elas se elevam muito, alto demais para parecerem apenas velas, como se a velha senhora estivesse acampada diante de uma fogueira familiar, como se o bolo fosse um livro aceso, explodindo naquela escuridão buscada por Proust para a criação literária". Mergulhada na cama, entre travesseiros, e todos os seus tesouros reunidos, Colette foi fotografada por André Kertész, Irving Penn, Henri Cartier-Bresson, Walter Carone e Robert Doisneau.
Alberto Manguel, Uma história da leitura; tradução Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
Fotos: © Irving Penn (Colette, Paris, 1951) e © Walter Carone (Colette, Paris, 1953)
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