"Olhar é dar um sentido à própria visão", observou Leonardo da Vinci. Um pássaro é um instrumento... ele abre suas asas de forma rápida e repentinamente, dobrando-as de tal maneira que o vento... levante ele. É isso que eu tenho observado no voo de um falcão jovem acima do mosteiro em Vaprio, à esquerda da estrada de Bergamo, em uma manhã de 14 de abril de 1500." Com o título The art of lookng sideways (Phaidon, 2001), o designer Alan Fletcher (1931-2006) transforma a teoria da percepção (do visual ao imaginário) em algo muito interessante, uma reflexão sobre a cegueira pelo hábito de olhar em volta, em vez de olhar com acuidade. No livro, Fletcher apresenta, sempre bem-humorado, um artigo científico intitulado O olho do sapo, um relatório detalhado de seus cérebros, conectados a dispositivos para ver o que eles veem. Para Fletcher é apenas uma questão de interferência da luz, a sombra vaga de um predador ou algo comestível voando. O universo do sapo é rastrear o mínimo necessário para sua sobrevivência. Para eles não há pôr- do- sol, nem folhas ao vento. Diante da quantidade de informações, uma situação encorajá-nos a absorver somente o que queremos ou o que é relevante para a nossa atividade diária. Em consequência, tendemos a reduzir o nosso ambiente visual - uma sinfonia eterna de cores, formas e padrões. Segundo Alan Fletcher, com efeito, o olho se acomoda até a mente acordá-lo com uma pergunta. Pois, o que vemos e o que observamos não são a mesma coisa.
Em 1955, Robert Frank cruzou os Estados Unidos fotografando bares e lanchonetes, fábricas e linhas de montagem, sanitários públicos, engraxates, os rostos desgastados dos aposentados. No Sul um xerife perguntou-lhe qual era seu negócio. "Eu estou procurando", ele respondeu. Foi-lhe dada uma hora para sair da cidade e no Arkansas passou três dias na prisão pelo mesmo crime - observação. "Olhar" foi anti-americano.
Fotos: © Robert Frank (Ranch market, Hollywood, / bar, Las Vegas, Nevada, The Americans, 1955)
2 comentários:
sempre bonito por aqui, Meg,
sempre muito bonito.
um beijo
Obrigada. Gosto da fase de pesquisa, Giuliano, mas tenho dificuldade em revisar os textos. Uma questão de ansiedade, e na prática um grave problema.
O seu blog é uma referência. Você escreve muito bem.
Beijo
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