domingo, 24 de outubro de 2010
Contemplando ideias
"A maior parte do tempo, uma imagem nos interessa porque indica alguma coisa que não está na imagem: pelo que nos deixa adivinhar, ou pelo que continua a ocultar. Somos muito mais detetives do sensível que os seus voyers. Platão dizia que a contemplação das imagens nos distrai da contemplação das Ideias. Mas, desta maneira, estabelecia uma homogeneidade enganosa entre a operação perceptiva e o insight intelectual. Admitamos que se contemplem Ideias: que outra coisa fazer com elas, já que, por princípio, elas são exibidas, eternas e imutáveis, diante do nosso entendimento? Mas, através das imagens; interpretamos as imagens, e é por isso que as olhamos tão pouco". No ensaio, Gérard Lebrun se refere à leitura das imagens cinematográficas e televisivas, um exercício de outro tipo, que nos força a uma compreensão mais rápida e mais concisa: "Pois não há tantas imagens diante das quais o olho se detenha, e pelas quais se deixe enfeitiçar." Mas, sem dúvida, isso pode acontecer. Por exemplo, quando olho a fotografia de Andréa Câmara, a imagem do menino de rua que vivia na Candelária, registrada poucos anos antes da chacina em 1993. Não sei se o menino sobreviveu, perdi seu paradeiro, mas seu olhar continua a falar por eles, diz Andréa.
(Gérard Lebrun, trecho do ensaio A mutação da obra de arte, caderno de textos nº 4, Funarte / Instituto Nacional de Artes Plásticas).
Foto: © Andréa Câmara (menino trabalhando, Rio de Janeiro, 1990)
Links:(http://twitter.com/andreacamara / http://twitter.com/nfmag)
Fotografia gentilmente cedida. Todos os direitos reservados a Andréa Câmara.
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4 comentários:
Muito bom encontrar Andréa e seu menino aqui.
Bjos para as duas.
E graças a você, Versiani. Ligar coisa com coisa permanece um privilégio de cada um. Todos os dias, na seleção das fotografias, você inclui o olhar da gente.
Obrigada!
Beijo
lembra uma das fotos do câmara clara, do barthes.
O que me chama obstinadamente a atenção são os dentes da criança, creio que é isso que ele fala.
Ele: o semiólogo.
Sim. A expansão do punctum: não leva em consideração a "doçura".
Exemplo recente, o sorriso de Palocci, a ideia mesma de "opressão", o que vejo.
Um beijo!
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