quinta-feira, 14 de abril de 2011
Lurdes R. Basolí: a violência em Caracas
"A realidade não é simplesmente que os venezuelanos, ou os brasileiros, ou os latino-americanos em geral, sejamos especialmente violentos. O que existe é o abandono dentro do sistema social, no qual se investiu mais em gastos com repressão do que em benefício da população." (Lolita Aniyar de Castro, advogada criminalista venezuelana). Quanto à questão da violência urbana atribuída à ineficiência do Estado, em 2010, o presidente Hugo Chávez censurou a publicação de matéria sobre o aumento da criminalidade na Venezuela, e chamou de imagem "pornográfica" a foto que mostrava cadáveres empilhados em um necrotério. Caracas, a capital mais violenta da América Latina, registra média de 200 assassinatos por cada 100 mil habitantes, é um dos projetos de Lurdes R. Basolí, fotógrafa espanhola com licenciatura em Comunicação Audiovisual pela Universidade Ramon Llull e pós-graduação em Fotojornalismo pela Universidade Autônoma de Barcelona. Suas fotografias foram selecionadas e apresentadas no PhotoEspaña (2008), Festival Noordelicht (2009), e em 2010, Basolí recebeu o Prêmio Inge Morath da Fundação Magnum.
Como surgiu a ideia de documentar em Caracas?
Lurdes Basolí: Comecei a viajar para a Venezuela em 2006 para documentar, do meu ponto de vista, a revolução bolivariana do presidente Hugo Chávez. Descobri que Caracas era a cidade mais violenta da América, e por isso decidi começar a fotografar essa parte de Caracas, a da violência. Pouco a pouco fui me envolvendo com o tema, que acabou se tornando o meu maior projeto, o mais pessoal.
Em uma entrevista, Gary Knight disse: "O fotógrafo sabe que as histórias que conta não são suas, mas tem como objetivo deixar melhor o lugar que encontrou". Você concorda?
LB: É muito interessante esta reflexão. Não se consegue transmitir 100% das experiências vivenciadas num lugar (e isso foi difícil para eu assumir). Não tenho a intenção de deixar melhor o lugar, mas sim de documentar através de minhas vivências o que acontece em determinado lugar, no caso Caracas. Seria magnífico se minhas fotos pudessem mudar ou melhorar algumas coisas, mas não sou tão inocente agora. Ainda assim, o fato de comunicar pode mudar a percepção e a consciência do espectador, e cada pequena mudança é também uma pequena vitória. Oxalá minhas fotos venham a melhorar o lugar. Mas também penso que o fato de compartilhar bons momentos e experiências com as pessoas que eu fotografo torna nossas vidas melhores. E, no final, o importante, como dizia Ander Petersen, é o "encontro".
Fotos: © Lurdes R. Basolí (Caracas, Venezuela)
Link: (www.lurdesbasoli.com )
Fotografias gentilmente cedidas. Todos os direitos reservados a Lurdes R. Basolí.
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