sexta-feira, 17 de junho de 2011

Irving Penn: estúdio ambulante


Não por acaso Irving Penn (1917-2009) optou por fotografar em um estúdio portátil para fazer uma série de ensaios documentais nas regiões mais remotas do planeta, um estúdio que ele chamou de "terreno neutro". Penn descobriu o valor do terreno neutro, em 1948, em Cuzco, quando alugou um estúdio local para retratar um grupo de índios do Peru. Na Espanha e Creta, Penn improvisou, usando como pano de fundo as paredes de uma garagem. Mas em 1967, para fotografar os indivíduos de tribos africanas de Dahomey (Benin), ele sabia que não poderia contar com qualquer tipo de locação.



Assim, a criação do estúdio ambulante foi cuidadosamente planejada em sua estrutura de armações em alumínio, um sistema de cordas para suportar ventos fortes e um toldo como abrigo do sol e da chuva. Um equipamento leve o suficiente para ser transportado por via aérea. Afastados de suas comunidades, mas sem isolá-los completamente do seu território natural, Penn venceu a barreira psicológica dos seus fotografados, nativos das aldeias de Peuhl, Fulani, Palapila, Ganvié, seguros de que ali realmente existia uma correspondência entre mundos tão diferentes: "Foi uma revelação para mim e, muitas vezes, eu poderia dizer, uma experiência emocionante para os próprios sujeitos que, sem palavras, apenas por sua postura e sua concentração, foram capazes de dizer tanto." A partir desses registros, Irving Penn usou o estúdio portátil em todas as suas viagens.
(Irving Penn / Worlds in a small room, as an ambulant studio photographer, Grossman Publishers / Viking Press, Nova York, 1974).
Fotos: © Irving Penn (Três jovens, aldeia Ganvié, Dahomey e estúdio portátil, Nepal) 

8 comentários:

Nuno Sousa disse...

Muito interessante essa ideia de "terreno neutro". Contudo, não sei até que ponto um espaço "artificial" como é o caso de um estúdio, pode ser um terreno neutro. O "habitat" onde as pessoas vivem, retratam tanto como os seus próprios rostos.
Sabia que Irving Penn só fotografava em estúdio, mas desconhecia que tinha construido um estúdio portátil para esse propósito. Mas uma vez obrigado pela partilha de tanta informação :)

Meg Rodrigues disse...

Para Irving Penn era importante eliminar qualquer interferência externa.
Obrigada, Nuno.

Nuno Sousa disse...

Meg; Uma tela cinza neutro é ou não uma interferência externa para um nativo? é essa a minha questão.

Meg Rodrigues disse...

Acho que não é bem isso. Penn desejava o "registro da presença física", sem interferência da paisagem ou de outras pessoas (tanto o ambiente natural quanto o ambiente social). Ele usou a lona como pano de fundo em todos os seus retratos, aborígenes, hippies ou trabalhadores franceses e americanos.

Valéry Lorenzo disse...

Concentrated on the human being...

Exciting ! as always...

Meg Rodrigues disse...

Confrontational imagery is radical imagery, but it's a decision of produce a powerful expression, the concentration the most important aspect.
Thanks, Valéry

Luis Eme disse...

é uma ideia excelente, não sabia.

Meg Rodrigues disse...

Oi, Luís

Os indivíduos reforçaram suas auto-representações, postura, acessórios.
(Como no caso da fotografia oficial de um presidente)?