sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Dorothea Lange e Robert Frank


Na década de 1930, a fotógrafa norte-americana Dorothea Lange (1895-1965) trabalhou para o projeto da Farm Security Administration (FSA), junto com os fotógrafos Walker Evans, Ben Shahn, Carl Mydans, entre outros, produzindo um comovente documentário social sobre as condições de vida dos trabalhadores nas áreas rurais dos Estados Unidos. 
"Dorothea Lange acreditava que saber de antemão o que se está procurando nos faz fotografar apenas as próprias concepções prévias, o que considerava muito limitador."
Incentivado por Walker Evans a candidatar-se a uma bolsa Guggenheim, o fotógrafo suíço Robert Frank apresentou o mesmo conceito de Lange, e seu livro The Americans foi completamente produzido sem um plano definido. 
Em 1965 Robert Frank visitou Dorothea Lange - no hospital onde ela estava morrendo de câncer. Quando estava indo embora, Frank percebeu sua amiga olhando para ele de uma maneira diferente. Eu apenas fotografei você, disse Lange, e acrescentou que não precisava de uma câmera. 
(Geoff Dyer, O Instante Contínuo, uma história da fotografia, tradução Donaldson M. Garschagen. - São Paulo: Companhia das Letras, 2008 / Peter Conrad, Modern times, modern places, Thames & Hudson, 1998). 
Foto: © Dorothea Lange / Farm Security Administration ("Toward Los Angeles", Califórnia, 1937 / reprodução Shorpy)

6 comentários:

Luis Eme disse...

e ela tinha razão, é sempre limitador no campo da criatividade.

abraço Meg

Meg Rodrigues disse...

E, o ato fotográfico, inscrito na memória, para transformá-lo em experiência.

Mudando de assunto, para você, o conto Mundo de papel de Pirandello, pelo historiador Roger Chartier:
Um leitor, o professor Balicci, fica cego de tanto ler. Ele fica desesperado porque a voz interior dos livros, que passava por sua visão se calou. Imagina então um primeiro subterfúgio, pedir a uma leitora para lhe ler em voz alta, mas o procedimento revela-se um desastre. A moça lê à sua maneira e Balicci não ouve mais a voz dos seus livros. Ele ouve outra voz, que choca sua audição e sua memória. Ele pede então a sua leitora que fique quieta e leia em seu lugar. Ela deve ler, para ela mesma, em silêncio, a fim de dar nova vida a este mundo que, desabitado, corre o risco de se tornar inerte. Lendo em lugar de Balicci, a leitora evitará que seus livros morram, abandonados, ignorados. Mas o drama se precipita quando um dia, lendo uma descrição da catedral e do cemitério de Trondheim, na Noruega, a leitora exclama: "Eu estive lá e não é de modo algum como está no livro!". O professor Balicci, então, tomado de cólera, despede a leitora gritando: "Pouco me importa que você tenha estado lá, do modo como está escrito, é assim que deve ser". O mundo de papel de Balicci, como o de Dom Quixote, tornara-se o próprio universo. Cego, o professor encontra seu único conforto, ou sua única certeza, no fato de que, quando folheia seus livros, que se tornaram ilegíveis, seus textos retornam na sua memória e, com eles, o universo tal como ele é - ou deve ser.

abraço Luis

Nuno Sousa disse...

A ideia da limitação prévia de quem procura algo para fotografar é uma evidência. Por isso Cartier Bresson dizia que não se devia procurar "a grande fotografia". bastava "estar disponivel" e ir registando aquilo que a vida nos vai apresentando.

Meg Rodrigues disse...

Fotografia é uma troca, Nuno.

Obrigada pelos comentários e pela amizade.

um abraço!

sonia a. mascaro disse...

Que foto incrível!

Feliz Ano Novo!

Meg Rodrigues disse...

Oi, Sonia

Tudo de bom para você!