Weegee (1899-1968) nasceu com o nome Usher Fellig, na Ucrânia, e emigrou para os Estados Unidos em 1910 (mais tarde anglicizado para Arthur Fellig). "Weegee, que recebeu esse apelido graças ao seu faro extraordinário para achar uma boa matéria (Weegee em inglês designa o tabuleiro Ouija usado em sessões espíritas), conseguia ser o primeiro fotógrafo na cena do crime porque em 1938 se tornou o primeiro cidadão autorizado a usar um rádio de ondas curtas para monitorar as transmissões da polícia. Weegee publicou em 1945 seu primeiro livro, Naked City, e um ano depois seu segundo livro, Weegee’s People. Começou a produzir fotografias distorcidas que apareceram em seu terceiro livro, Naked Hollywood (1953). Sua autobiografia, Weegee by Weegee, foi publicada em 1961." (Tudo sobre Fotografia, Sextante, 2012).
O livro The Village, publicado em 1989, contém o layout, a seleção e sequência das fotos sem legendas e o texto de introdução que Weegee deixou pronto antes de morrer. Para ele, o projeto é a lembrança de um lugar em processo de desaparecimento. Na época, prédios históricos foram demolidos para a construção de novos centros educacionais.
Sua narrativa não deixa dúvidas de que o fotógrafo sente-se integrado e participante do roteiro que está apresentando — sua própria história. Se, por um lado, suas fotografias proporcionam conhecimento sobre a vida cultural no Greenwich Village, o bairro mais badalado de Nova York nas décadas de 1940 e 1950, por outro, seu texto revela um descontraído e doce Weegee.
Eu amo Greenwich Village (...). As pessoas migram para o Village porque é um bairro diferente ou para encontrar sua alma gêmea (...). Freud é o autor preferido. Village está repleto de pessoas criativas: escritores, estudantes de arte, músicos e dançarinos à espera da descoberta de seus talentos. No entanto, se você der de cara com um sujeito que sabe compor uma música, viaja de avião, usa cavanhaque, gravata borboleta e fuma cachimbo… ele não é nenhum gênio. A vida noturna é abundante em Village. A Broadway agora é chamada de "Cinderela" porque tudo acaba à meia-noite. O melhor horário para conhecer a boemia é a partir das dez horas da noite, quando começa a esquentar (fique longe do lugar aos sábados, quando atrai turistas e curiosos). Sheridan Square é um bom lugar para começar. Atravessando a praça, o Riviera é o local mais amigável da cidade. Beba um copo de cerveja pelo preço de 15 centavos no Bar Louis, é refrescante e o exercício lhe fará bem. Mas não fique por muito tempo em um só lugar. Caminhe pela MacDougal e pare para ler os anúncios no quadro de aviso do Gaslight Coffee House, você não vai querer misturar café e cerveja. Em seguida, vá até o Bar San Remo para ver o que está acontecendo. Se ainda estiver sozinho, há algo errado com você. Mas não desista e nunca perca a esperança, a última parada é no Lenny, West 10th Street. Tenha muito cuidado com as garotas do Bronx e Brooklyn, elas estão sempre à procura de alguém (um John) para pagar um jantar com vinho e depois levá-las para casa de taxi. Tem festa no Village pelo menos uma vez por semana, normalmente acontece num loft, todos sentados no chão, com olheiras profundas sob os olhos, enquanto alguém toca o bongô (...). As garotas do Village parecem ser de outro planeta, como se pudessem atravessar paredes e uma capacidade inesgotável de beber cerveja. Domingo é um grande dia no Village. Washington Square Park reúne pessoas de todas as idades. Os jovens levam banjos e gaitas e cantam canções folk. E então chega à noite, o parque fica quase deserto, exceto por alguns casais aqui e ali. Na segunda-feira, eles voltam à rotina, cansados… olhando pela janela… olhando… procurando.
Fotos: © Weegee (Portrait of Maurice, Prince of Bohemia holding The Villager newspaper, San Remo Bar, Greenwich Village, Nova York, 1954) / (Woman, seen from behind, wearing a dress with an exposed back, seated at a table smoking a cigarette) / (Man with one raised arm, the other arm holding a cigarrette, and woman, holding a bottle, they are wearing costumes, almost naked and perhaps dancing, at a ball at the Astor) / (Man biting the hair of a woman, perhaps while dancing, as a coustumed crowd looks on, at a party in Greenwich Village) / ( Weegee, The Village. Editor Robert Drapkin, copyright © Wilma Wilcox, Da Capo Press, 1989) / ( Reproduções ICP - International Center of Photography)
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