sábado, 8 de novembro de 2008

A imagem da cidade

"Não sou arquiteto nem urbanista. Se há alguma coisa que me autorize a lhes falar e me qualifique a fazê-lo será o fato de que, além de cineasta, sou um viajante que viu muitos lugares, que viveu e trabalhou em diferentes cidades do mundo (...). Durante muito tempo, a realidade só pôde ser representada pela pintura. Cada imagem era única. Depois, com a invenção da imprensa, as imagens puderam ser reproduzidas e postas em circulação. No século XIX, este desenvolvimento deu um grande salto. Com a invenção da fotografia surgiu uma relação inteiramente nova entre a realidade e sua representação, começou a existir uma "realidade de segunda mão". O passo seguinte não tardou a vir: as imagens fotográficas aprenderam a andar. Pela primeira vez alguém podia ficar na cidade e ver o mundo no cinema da esquina. (...). Se mostrar foi noutra época a missão primeira, a missão mais nobre das imagens, o seu fim parece ser cada vez mais vender. No mundo inteiro corre-se o perigo de se produzir imagens como se este fosse um fim em si mesmo. Graças a certas falhas, me dei conta de que "uma bela imagem" não representa um valor em si. Pelo contrário: uma bela imagem pode destruir o fluxo, o caráter e o funcionamento do todo, a estrutura dramática. As cidades não contam mais histórias, mas podem contar algo sobre A História. As cidades podem trazer em si sua história, e mostrá-la, podem torná-la visível ou ocultá-la. Elas podem esvaziar ou alimentar sua imaginação."
© Win Wenders (La Verité des Images, 1992)
Foto: © Win Wenders (Houston, Texas, 1983)

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