O poeta Charles Baudelaire (1821-1867) temia a vulgarização da arte a partir da invenção da fotografia, uma cópia exata da natureza, "um ato de um deus vingativo". "Baudelaire que, ao mesmo tempo em que denuncia com virulência o gosto da multidão pela foto, nem por isso deixou de pedir que Nadar e Carjat fizessem seu retrato várias vezes." Philippe Dubois (O ato fotográfico, 2006). Escreve em 1865 à sua mãe: "Eu gostaria muito de ter teu retrato. É uma ideia que se apoderou de mim. Existe um fotógrafo excelente no Havre. Mas temo que isso não seja possível nesse momento. Eu teria de estar presente. Tu não entendes disso, e todos os fotógrafos, mesmo excelentes, tem manias ridículas: consideram uma boa imagem a imagem em que todas as verrugas, todas as rugas, todos os defeitos, todas as trivialidades do rosto tornam-se muito visíveis, muito exageradas: quanto mais a imagem for dura, mais ficam satisfeitos. Ademais, gostaria que o rosto tivesse pelo menos a dimensão de uma ou duas polegadas. Só em Paris há quem saiba fazer o que desejo, ou seja, um retrato exato, mas com o flou de um desenho. Enfim, vamos pensar nisso, não é?"
Foto: Étienne Carjat (1828-1906) (retrato Baudelaire, 1863)
2 comentários:
Baudelaire faz parte da minha lista de escritores preferidos.
"Sinto por vezes que meu sangue corre em fluxos,
Assim qual uma fonte em rítmicos soluços.
Eu bem que o escuto numa súplica perdida,
Mas me tateio em vão em busca da ferida"
(A Fonte de Sangue)
linda carta!
amo as cartas!
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