sexta-feira, 17 de abril de 2009

Cartier-Bresson: o retrato de Paul Valéry

"Quando a imagem é resultado de um encontro privado, e obedece portanto a um acordo prévio entre as partes, quase sempre há uma história. Porém quando o retratado quer dar uma ajuda ao fotógrafo, beiramos a catastrofe. Em vez de se deixar levar, de esquecer de si mesmo e do fotógrafo, Paul Valéry pretende ajudá-lo assumindo uma pose. De frente, três quartos, perfil, perfil bom, perfil ruim... (...) Suas reações não são apenas de uma pessoa que se ama, mas de um homem que tem medo da câmera, medo de não poder controlar seu trabalho silencioso, medo de nada poder controlar de sua imagem depois de o fotógrafo capturá-la. Cada vez que ouve o clique do disparador, Valéry pergunta nervosamente: - O senhor já tem o que queria? Por que ele não pensa no que escreveu em 1939, sobre as coisas vistas que correspondem às coisas sensíveis graças ao "demônio repórter-fotográfico"? Por que ele não medita sobre os ensinamentos dados a Degas por seu mestre Mallarmé, cuja foto ocupa um lugar de honra à sua frente em cima da chaminé? Um retrato é sempre uma aventura. Não existe nada menos deliberado." Pierre Assouline (Cartier-Bresson, o olhar do século, Tradução Julia da Rosa Simões, L&PM Editores, 2008).
Foto: © Henri Cartier Bresson (Paul Valéry, 1945)

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