quinta-feira, 28 de maio de 2009

A fotografia de um campo

"Um campo, em algum lugar fora da cidade. Durante alguns milhões de anos, ele dormiu sob uma camada de gelo. Depois um grupo de pessoas com pronunciadas mandíbulas inferiores se estabeleceu ali, acendeu suas fogueiras e ocasionalmente sacrificou animais para deuses estranhos sobre uma base de pedra. Milênios se passaram. Inventaram o arado, semearam trigo e cevada. Monges se tornaram os donos do campo, depois o rei, em seguida um mercador e, no final, um fazendeiro, que recebia generosas quantias do governo para cedê-lo ao colorido plantio de margaridas e trevos vermelhos. O campo teve uma vida agitada. Um bombardeiro alemão, muito longe de seu alvo, voou sobre ele na guerra. Crianças interromperam longos passeios de carro para vomitar na sua margem. Pessoas deitaram nele de noite e ficaram imaginando se as luzes lá em cima eram estrelas ou satélites. Ornitólogos atravessaram-no a pé com meias cor de aveia e localizaram famílias de rouxinóis pretos. Dois casais de noruegueses passeando de bicicleta acamparam aqui. Raposas andaram em volta. Camundongos fizeram jornadas exploratórias. Minhocas ficaram embaixo da terra." Alain de Botton (A arquitetura da felicidade, tradução Talita M. Rodrigues, Rocco, 2006). "A complementaridade das imagens e das palavras também reside no fato de que se alimentam umas das outras. Não há necessidade de uma co-presença da imagem e do texto para que o fenômeno exista. As imagens engedram palavras que engedram imagens em um movimento sem fim." (Martine Joly).
Foto: © Don (Donald) McCullin

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