"O fotógrafo que se antecipa e invade para criar a imagem e realizar a militância através de sua artesania, de algum modo, se move da ideologia profissional do fotógrafo artesão-artista para a ideologia partidária do militante. A questão que subsiste diz respeito ao dilema implícito quanto a ser ele o fotógrafo que fez da fotografia o objeto e o objetivo do seu trabalho ou a ser ele o fotógrafo que faz da fotografia um meio regulado por aquilo que não é próprio dela. Ou seja, valendo-se de um depoimento de Cartier-Bresson, é ele testemunha ou é ele patrono de situações políticas ou sociais? No geral, os fotógrafos dos temas sociais vivem esse dilema. Diz Bresson: 'As exposições permitem que se dê forma ao conjunto de imagens. É a força do documentário, poder conferir forma a um tema. Mas saber o que esse conjunto prova, não sei nada. Dou meu testemunho de que estive lá e que vi aquilo. Sou herdeiro de uma tradição, a de Walker Evans. Tomemos o caso da globalização, que me apavora. O problema é que a Leica não pode dar conta dela. Acho que não se pode fazer um trabalho diretamente político com a máquina fotográfica. Não posso provar com minha máquina, posso apenas testemunhar a partir da vida de todos os dias. Nunca pus meu trabalho a serviço de uma ideia. Tenho horror às imagens que defendem uma tese'." Michel Guerrin (Exercícios da memória, Tradução Clara Allain, copyright Folha de S. Paulo / Le Monde, 2004).
Foto: © Henri Cartier-Bresson (Nova York, 1946)
Um comentário:
Grande post, Meg! Maravilhoso. Vinha lendo de baixo pra cima e vejo esta perola! Ganhei o dia!
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