segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

José Medeiros por Walter Firmo

"O outono dourava aquele ano de 1954. Um estampido cerrava os olhos de Getúlio Vargas e, quase num golpe de ar, descerrava Brasília, trêmula na bandeira, na palmeira, no sorriso.
A esperança flanava.
Orfeu descia do morro iluminando as primeiras manhãs coloridas como suas escolas de samba. João Gilberto nos acordes despertava na surdina a classe média tijucana que teimava em sonhar com o mar.
Eu era um menino que palmilhava o itinerário adolescente procurando espaço, caminhando nas estrelas suburbanas a comprar abat-jour lilás no dia das mães.
Depois a Rolleiflex, sopro de vida, flauta no ar.
Foi assim que conheci José Medeiros, lendo e relendo seus artigos na revista A Cigarra, apreendendo cada vírgula em cada click, seu gesto e olhar. A luz, o ângulo, o ponto de vista a perder.
Porque o José – nome de meu pai – foi a raiz de meu caule. Depois me fiz árvore, mas isso é outra história, mesmo porque, dos galhos que me restaram, só ficaram frutos.
E nas bancas das quartas-feiras – quando O Cruzeiro circulava – era o primeiro a chegar, chupando, bebendo nos canais de Marte dos meus olhos toda a aventura daquele homem que eu pensei não existisse, dada a onipotência de suas imagens, sacrílegas, virgens.
José Medeiros de nome adocicado, passarinho de todas as viagens que não fiz, prisioneiro da minha própria fotografia do menino que um dia fui nos quintais hoje amadurecidos.
José Medeiros, obrigado.” Walter Firmo
Foto: © Walter Firmo (José Medeiros, 50 anos de Fotografia, catálogo Funarte / Instituto Nacional da Fotografia, 1986). (www.walterfirmo.com.br/)

Foto e texto gentilmente cedidos pelo autor.

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Meg! :-)
Hj vi uma foto em que aparece o Walter Firmo e o José medeiros no Face. Lembrei uma vez que um livro do J.Medeiros veio parar na minha mão. Meu Deus, fiquei bestializado!!! Senti uma coisa dificel de explicar, talvez seja algo parecido se olhasse uma tela de Michelangelo. A muitos anos sou fã desse monstro da fotografia brasileira. Falei a W.Firmos sobre isso. Sabe o que ele respondeu? Eu tambem!...
Moizes Vasconcellos.

Meg Rodrigues disse...

Moizes, meu amigo
Tudo bem? Mil desculpas pela demora em lhe responder, eu estava de mudança. E mais, o fato de grande número de posts do blog serem copiados me deixa desanimada.
Puxa vida, você esteve com Walter Firmo? Meu coração bateu muito forte quando recebi dele o e-mail autorizando a publicação.
Entendo perfeitamente o que você sentiu.
A admiração de Firmo por Medeiros é infinitamente verdadeira.
Muito obrigada por tudo!

Beijos