"O senhor Palomar, tendo sabido que este ano durante todo o mês de abril os três planetas 'externos' visíveis a olho nu (mesmo por ele, que é miope e astigmático) estarão 'em oposição', portanto visíveis por toda a noite, apressa-se em subir no terraço. (...) O senhor Palomar, talvez porque tenha o mesmo nome de um observatório famoso, goza de certa amizade entre os astrônomos, e foi-lhe permitido aproximar o nariz da ocular de um telescópio de quinze centímetros, ou seja, bastante insignificante para a pesquisa científica, mas se comparado aos seus óculos, já encerrando uma grande diferença. (...) 'Se o pudessem ter visto como agora o vejo', pensa o senhor Palomar, 'os antigos iriam crer que estavam erguendo o olhar para o céu das ideias de Platão. (...) Na noite seguinte, volta para o seu terraço a fim de ver os planetas a olho nu: a grande diferença é que agora é obrigado a levar em conta as proporções entre o planeta, o resto do firmamento esparso no espaço escuro por todos os lados e ele que olha, coisa que não ocorre se a relação é entre o objeto separado planeta posto em foco pela lente e ele sujeito, num ilusório face-a-face. Ao mesmo tempo ele recorda de cada planeta a imagem detalhada vista na noite anterior e procura inserir naquela mancha minúscula de luz que perfura o céu. Assim espera haver se apropriado de fato do planeta, ou pelo menos do quanto de um planeta pode entrar em um olho." Italo Calvino/ Palomar; Tradução Ivo Barroso. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
Foto: © Paul Caponigro (Galaxy apple, Nova York, 1964)
Um comentário:
Ah! Reler Ítalo Calvino é sempre bom! Abraço!
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