Na opinião de Joan Gomis (La Vanguardia) "o mundo esteve e está cheio de catástrofes anunciadas", se referindo ao episódio de Timor Leste após o referendo favorável à independência, em 30 de agosto de 1999. O importante testemunho do fotógrafo australiano David Dare Parker nos dá a dimensão da violência que tomou conta da ilha. Na manhã de quarta-feira, 1 de setembro de 1999, Parker e três outros fotógrafos, Dan Groshong, um americano, Siem Vaessen da Holanda e Kemal Jufri frelancer da Indonésia saíram para investigar o local onde ocorrera um assassinato. Caminharam um pouco quando um grupo de milícia Aitarak obrigou-os a correr como no inferno. Um caminhão com soldados indonésios os acompanhou para fora da área de conflito: "Em uma reviravolta surreal de eventos, cerca de vinte minutos depois eu estava sentado na parte traseira de um caminhão com um grupo de Aitarak indo cobrir o funeral do membro da milícia Plácido Ximenes, morto durante um confronto em Becora alguns dias antes. Naquela tarde, tivemos notícias de um choque entre partidários pró-independência e a milícia. Parti para registrar o confronto junto com um observador dos direitos humanos Danny Brown e os fotógrafos Kemal Jufri e Siem Vaessen. Ao chegarmos perto da ação, ouvimos tiros e pude ver uma batalha contínua entre adeptos da independência a atirar pedras contra a milícia armada com pistolas e facões. Danny e eu saíamos do carro para dar uma olhada. Os outros pediram ao motorista que deixasse o veículo ligado, caso precisássemos ir embora rapidamente. Quando nos aproximamos, um pequeno grupo de milicianos nos viu e imediatamente deu início a perseguição. Voltamos correndo para o carro. Podíamos ouvir tiros e gritos, mas nunca olhei para trás. Pouco antes de chegarmos ao carro o motorista entrou em pânico e tentou nos expulsar. Kemal segurou o freio de mão, apenas o tempo suficiente para lançar-nos no banco de trás. Nós nos abaixamos quando um membro da milícia jogou sua arma contra a janela traseira do carro, ficamos cobertos de cacos de vidro. Nosso motorista acelerou e partimos em velocidade". Parker lembra ainda que houve momentos em que os ataques eram bem reais, em outras ocasiões, o objetivo era intimidá-los: "A tática funcionou com a maioria de nós, junto com um sentimento de culpa por deixar uma história inacabada e um povo valente abandonado à própria sorte". Em 3 de setembro, a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) divulgara alerta geral recomendando que a mídia deixasse a região por falta de segurança. "O que os jornalistas passaram ao tentar realizar seu trabalho não era nada comparado ao que os timorenses tinham enfrentado. No regresso a Dili para cobrir a defesa de Timor Leste pelas tropas da Interfet descobrimos organizações e ouvimos histórias de assassinato e estupro. O povo de Timor Leste havia mostrado uma coragem incrível ao votar pela independência, assim como a fé na ideia de que a ONU estaria ali para protegê-los", diz Parker.
David Dare Parker foi um dos co-fundadores da Reportage, diretor do FotoFreo Photographic Festival, membro do conselho consultivo da Nikon-Walkley e um embaixador da Nikon Austrália. Na apresentação de seu trabalho, Parker escreve em terceira pessoa: nós fotojornalistas. Com base no respeito pela integridade de seus colegas e inspiração quanto a seu sentido e a sua verdade.
Fotos: © David Dare Parker / °South (Austrália) e OnAsia Images (Forças da Indonésia partem e milícias incendeiam o local, Dili, Timor Leste, setembro de 1999 / membros pró-indonésia se preparam contra possível ataque da milícia pró-jacarta, perto de Hera, Dili, Timor Leste, setembro de 1999)
Link: (http://www.daviddareparker.com/ ). Fotografias gentilmente cedidas. Todos os direitos reservados a David Dare Parker.
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