domingo, 23 de janeiro de 2011

Gustavo Jononovich: Santarém, the dark side of progress


Em 2000, com a crescente demanda de soja no mercado global, produtores chegaram à região de Santarém, no coração da Amazônia. Com o apoio do governo através de concessão de empréstimos para insumos e maquinaria, os produtores compraram grande quantidade de terras por preços irrisórios das famílias que ali viviam há décadas. Além dos impactos ambientais irreversíveis, os conflitos sociais na região levaram à extinção de comunidades rurais. Milhares de agricultores migraram para a cidade, e sem oportunidades de emprego, gerando um contexto de pobreza, prostituição e criminalidade. Ainda segundo a Comissão Pastoral da Terra, a situação hoje pouco mudou. A presença dos grileiros na terra dos indígenas continua sem nenhuma atuação do Governo do Estado.
Como surgiu o projeto de fotografar em Santarém, e como foi seu contato com essa realidade?
Gustavo Jononovich: A viagem ao Brasil, no final de 2008, foi a primeira etapa do meu projeto sobre América Latina chamado RICHLAND. Em retrospectiva, minha experiência em Santarém marcou o começo de um caminho que continuo transitando atualmente. Este caminho está guiado principalmente por mudanças em minha maneira de pensar que logo se refletem em minha fotografia. Até poucos meses antes de viajar ao Brasil, vinha trabalhando como fotógrafo de imprensa cobrindo notícias locais. Um trabalho que eu desejava fazer há muito tempo, no entanto, gradualmente ao longo de quase dois anos, descobri que na realidade não me interessava por nada do que fazia. Gostava de fotografar, mas não do que estava fazendo, nem minha motivação. Até esse momento minha fotografia era estranha para mim.
Eu queria viajar para a Amazônia. Um amigo me contou sobre Santarém e o que estava acontecendo com a chegada da soja, depois de um tempo comprei a passagem aérea. Fiquei dois meses em Santarém e arredores.
Você é um fotógrafo preocupado com as questões sociais? Fale um pouco do projeto de um livro sobre a América Latina.
GJ: Neste momento estou trabalhando em um projeto diretamente relacionado às questões sociais ou humanas. Isso não significa que sou "um fotógrafo que se ocupa de questões sociais". Hoje sim, amanhã não sei, é impossível saber e absurdo pensar que não vou mudar. Voltando à primeira pergunta, onde falo das mudanças em meus pensamentos, refiro-me, entre outros, conhecer a mim mesmo.
RICHLAND é um projeto grande e ambicioso, é meu rumo e minha desculpa para fazer o que gosto. Faço isso em etapas, país por país. Minha evolução como fotógrafo (e este projeto) se deve, em grande parte, ao alternar períodos nos quais fotografo muito com períodos em que passo muito tempo sem filmar.
RICHLAND tem um esqueleto documental sobre a degradação na América Latina devido à riqueza de sua terra. No entanto, minha motivação principal não é denunciar, e sim fotografar, o que gosto muito de fazer.
Fotos: © Gustavo Jononovich (Violência e tráfico de drogas aumentam nas favelas e periferia de Santarém, 2008 / Mulher indígena vai para a cidade de Santarém, por barco, para reivindicar seus direitos sobre a terra indígena ameaçada pela expansão da soja, 2008)
Link: (http://www.gustavojononovich.com/)
Fotos gentilmente cedidas. Todos os direitos reservados a Gustavo Jononovich.

Um comentário:

Carmen Troncoso Baeza disse...

Lo encuentro terrible, la pasividad, los brazos caidos, la impotencia del usurpador economico, no, no es politica, es una realidad, estamos viviendo el presente!