quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O retrato de Lilya Brik

No cartaz de Alexander Rodchenko (1891-1956) para a Gosizdat, importante editora russa (entre 1919 e 1930), a foto célebre da operária usando um lenço na cabeça, sua boca aberta exibe um largo sorriso, sobre fundo preto, em forma de um megafone, o grito explode de seus lábios: Livros! A modelo da fotografia é Lily Brik (Lilya Yur’evna Brik, 1891-1978), mulher de personalidade forte e presença marcante junto com outros artistas do movimento construtivista na antiga União Soviética: "Um traço notável da vanguarda russa pré e pós-revolucionária era o fato de contar, entre seus membros, com uma proporção de mulheres artistas bem maior do que qualquer outro movimento de vanguarda." (Briony Fer, Realismo, racionalismo, surrealismo – a arte no entre-guerras). Rodchenko fotografou Brik em uma capa para a revista LEF, panfletos de propaganda do “comando social” e fotomontagens. Em 1923, o rosto de Lily com olhos arregalados ilustrou a capa de Pro Eto, poema de Vladimir Maiakovsky. Formada em arte e arquitetura pelo Instituto de Moscou, Brik produziu e dirigiu o documentário "Jews on the land", sobre fazendas coletivas judaicas na Rússia, com roteiro de Maiakovski e Viktor Shklovsky. Em 1929, dirigiu o filme "Steklyanny glaz" (O olho de vidro), uma paródia sobre "cinema burguês". Lily Brik foi fotografada por Martine Franck em 1976, dois anos depois, sofrendo de uma doença incurável, cometeu suicídio. A artista não queria ser dependente de ninguém.
Fotos: © Martine Franck / Magnum Photos (Lilya Brik, 1976) © Alexander Rodchenko (cartaz "Knigi", 1924, MoMA)

4 comentários:

João M. B. disse...

Bela postagem, Meg. Conhecia há muito a famosa foto da moça, mas nunca havia me deparado com nada sobre ela. Mais uma vez te dou os parabéns pelo trabalho que fazes, aqui.

Abçs,
João

Meg Rodrigues disse...

Obrigada, João. Estou a aprender (nos livros!)e descobri algumas coisas: Lily ajudou financeiramente cineastas e escritores russos, preservou e divulgou a obra de Maiakovsky. Simplesmente "musa", isso não é justo.

Beijo

Giuliano Gimenez disse...

puxa!

e castro alves:

Oh! Bendito o que semeia
Livros à mão cheia
E manda o povo pensar!
O livro, caindo n’alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar!

um beso

Meg Rodrigues disse...

Bendito Giuliano!
Pesquisar é muito bom, mas há o restante.
Uma história lendária a respeito de Júlio Verne. O gabinete de trabalho do escritor em Paris é caótico, tomado por mapas, compêndios, livros científicos, gráficos. Para não perder a folha em que está escrevendo, Verne tem um método infalível: ao terminar de encher uma página, levanta-se um pouco, põe a folha na cadeira e volta a sentar-se sobre a folha. Há um comentário de Jean Prasteau a respeito: "Um método como qualquer outro de dar calor ao estilo."

Beijo