sábado, 4 de fevereiro de 2012
Kim Abeles: Enciclopédia Persona
Enciclopédia, neologismo formado a partir dos termos gregos en (em), kyklos (círculo) e paideia (aprendizado), é definida como: "o círculo do aprendizado". Persona, palavra latina para a máscara usada por atores no teatro greco-romano, deriva de personare, que significa "soar através de, ou ressoar". O termo referia-se especificamente à forma como os atores projetavam suas vozes ao falar através de um personagem na arena. Com o passar do tempo, a legislação romana veio definir persona como um indivíduo, um cidadão dotado de direitos e deveres; e, só mais tarde, passou à significar "pessoa".
Essas múltiplas conotações de persona são todas visíveis na obra da artista norte-americana Kim Abeles. Em 1979, Abeles fez uma série de autorretratos fotográficos para documentar ações temporais que acentuam a ação da câmera. Experiência para Mim como Outra documenta o uso de tenazes de forno e outras ferramentas pesadas para acionar o disparador. Em Nossa Posição, Sempre Recíproca, ela prendeu a câmera a distintas partes do corpo (sobre o rosto, em torno da cintura e do tornozelo) para exprimir a natureza voyeurística da câmera e para referir-se às relações tema / objeto com o espectador. Em Sisyphisto, Abeles usa uma máscara de gás e pendura em seu corpo ferramentas, invertendo o conceito de antropomorfismo ao tornar-se uma engenhoca "viva". Nesses autorretratos feministas, Abeles usa objetos e assume posições estratégicas culturalmente arroladas como "masculinas".
Enquanto começava os autorretratos, a artista lia o livro de Susan Sontag, Sobre Fotografia. Abeles se interessava pela maneira como Sontag rejeitava a ideia da fotografia constituir-se num documento confiável ou num agente de verossimilhança absoluta. Ela estava intrigada pela insistência de Sontag de que somente poderemos considerar a fotografia uma forma artística ou um meio, quando começarmos a duvidar da sua veracidade. Isso foi muito importante para Abeles, visto que ela utiliza fotos não apenas como documento, mas também como um material que ela altera, mutila, fragmenta e apresenta fora do contexto.
Tal como no caso da Enciclopédia, a obra de Abeles é didática e instrutiva; e no entanto, também é estética e poética, sempre baseada na persona, nas pessoas e na humanidade. No fundo de todas as suas diversas atividades, o objetivo real de Abeles é educar seus espectadores e o público. Abeles tenta completar o "círculo de aprendizado".
Fotos: © Kim Abeles (Autorretratos / catálogo da exposição Enciclopédia Persona, Fellows of Contemporary Art, tradução Márcia Biato, Museu de Arte de Santa Mônica, Los Angeles, 1993). Fotografias gentilmente cedidas. Todos os direitos reservados a Kim Abeles.
Links: (http://kimabeles.com / http://frugalworld.org)
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2 comentários:
Abeles está certa.
abraço Meg
Eu fiquei impressionada com o trabalho de Abeles, professora, produtora e ativista (as práticas desumanas para controlar os pacientes mentais, AIDS, consciência ambiental).
abraço Luis
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