(...) "Existem culturas e sociedades com espelho e culturas e sociedades sem espelho. Existem sociedades inteiras que nunca se viram. Existem grupos humanos e sociedades que não possuem a Imagem de seus próprios corpos. E, curiosamente, são sociedades onde os corpos são tatuados ou pintados. Na realidade, existem poucas culturas de espelho. E sempre limitadas a grupos elitistas. A China conheceu o espelho feito de ferro batido; Atenas o conheceu em Roma. Mas foi preciso esperar Veneza e o século XV para a invenção da placa de cristal. (...) No século XVI, Henrique VII e Francisco I decidiram substituir a guerra das armas por uma guerra de prestígio, a rivalidade entre duas pessoas, impondo, a cada uma, uma Imagem gloriosa do outro. Construiu-se Versailles para causar assombro. Vocês conhecem o que disse Luiz XIV ao embaixador de Veneza? - "O que o surpreende mais aqui em Veneza?" O embaixador respondeu: - "É de me ver". (...) Dá-se uma revolução, chega a fotografia; todo mundo dispõe da sua imagem. É uma verdadeira revolução, no século XIX. Lembrai-vos dos Poemas de Kodak, de Cendrars, e eles celebram, justamente, a capacidade de todos os homens de dispor de sua paisagem e de sua imagem. (...) Portanto, eu digo que o problema não é somente produzir imagens, mas permitir, democraticamente, a um grande número de pessoas de dispor de sua imagem e, por consequência, da realidade." Jean Duvignaud (Imaginário Brasileiro, Tradução Rosza W. vel Zoladz, 7Letras/Faperj, 2005).
Foto: © Niklaus Walter
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