Ansel Adams: um discurso para a paisagem

Aos dezessete anos de idade, Ansel Adams (1902-1984) entrou para o Club Sierra, grupo ambientalista do qual foi um membro pelo resto de sua vida. Adams desenvolveu ao longo de muitos anos uma técnica fotográfica (seu "sistema de zonas") e tirou todas as lições na direção dos santuários naturais: Canyon de Chelly, as falésias do Death Valley e os abismos do Green River. Em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, Adams fotografou em Manzanar, um campo de concentração chamado de "centro de recepção", um eufemismo para o lugar onde foram confinados sob custódia armada cerca de 10 000 norte-americanos nikkei (descendentes de japoneses nascidos fora do Japão). Em Manzanar, Adams registrou cenas de atividades agrícolas, esportivas e de lazer; não fotografou as cercas e nem as torres de vigilância do campo. Em 1944, uma seleção dessas fotos participou de uma exposição: retratos de prisioneiros felizes, se não exatamente isso, pelo menos não desanimados ou cansados. Na verdade, no contexto de uma resistência, seus sorrisos remetem ao paraíso de Shangri-La. A partir do campo de Manzanar, localizado aos pés de Sierra Nevada, Vale Owens, Califórnia, Ansel Adams, posicionado numa plataforma no capô do seu carro, fotografou o monte Williamson. Em 1965, o fotógrafo doou seu acervo de Manzanar para a Biblioteca do Congresso norte-americano.

Desert for ever*
"Para nós, os fanáticos da estética e do sentido, da cultura, do sabor e da sedução, para nós, para quem só é belo o que é profundamente moral, e só é apaixonante a distinção heróica entre natureza e cultura; para nós, que estamos indefectivelmente ligados aos prestígios do senso crítico e da transcendência, para nós é um choque mental e uma desvinculação inaudita descobrir o fascínio do contra-senso, dessa desconexão vertiginosa igualmente soberana nos desertos e nas cidades. Descobrir que se pode desfrutar da liquidação de toda a cultura e exaltar-se com a sagração da indiferença." Jean Baudrillard
(* Em inglês no original: "Deserto para sempre.",N. do T.)
Jean Baudrillard / América; tradução Álvaro Cabral. - Rio de Janeiro: Rocco, 1986, p. 102)
Fotos: © Ansel Adams (Richard Kobayahi, Manzanar, 1943 / Mount Williamson, Sierra Nevada, 1945)